sábado, 25 de janeiro de 2014

Manifesto pelo silêncio.

Foto do projeto Desáudio, do fotógrafo Lucas Lenci. Sobre a foto, Lenci diz "Não se trata de um silêncio completo, mas aquela mulher representa o silêncio em meio aos demais."
                Há um tempo foi inaugurado um campo de futebol aqui do lado da casa da minha mãe, em Ituporanga, até aí tudo bem, é um campo de futebol aonde as pessoas vão se divertir, e não vai incomodar muito. Mas fizeram um bar e uma churrasqueira, e colocaram caixas de som, sendo que uma fica virada para a nossa casa. Tudo bem. O problema, é que o som fica ligado de segunda a segunda, de manhã até uma da madrugada. Dormir bem? Não conheço mais. Paz? Não conheço mais. Silêncio? Deixou saudades, muitas saudades.
                Já faz pouco mais de um mês que estamos convivendo com o barulho, com barulho digo gritos, palavrões, bolas nas tábuas ao redor do campo, sertanejo universitário, sertanejo estilo “Tonico e Tinoco”, pagode, e música ao vivo ruim, muito ruim. Mas acho que mesmo se a música fosse boa ou se as pessoas não gritassem o tempo todo “vai filha da puta”, “chuta essa bola viado”, “faz esse gol seu corno desgraçado”, perdão pelos palavrões, mas é assim mesmo, ninguém consegue conviver com o barulho 24 horas por dia, todos os dias da semana, é impossível. Sem falar na raiva que me dá da falta de respeito que essas pessoas têm com o próximo, ou melhor, será que essas pessoas sabem que existe um “próximo”?  E é por isso que eu resolvi falar um pouco sobre a alegria do silêncio.
                Todo esse evento coincidiu com a publicação da edição de janeiro da revista Vida Simples, cujo tema é Ouça o silêncio. Coincidência ou não, encaixou com o meu momento, principalmente com a frase de Gordon Hempton: “O silêncio está em extinção”. E é verdade. Não tenho muitos anos de vida, mas já posso dizer que o mundo esteve mais silêncio. Lembro quando passava as férias na fazenda do meu avô, o silêncio era tanto, principalmente à noite, que ás vezes dava até medo. Ouvia os sapos coaxarem, os grilos cantando, toda a sorte de animais, qualquer barulhinho era perceptível. Esta semana fui com meu pai para Rio Bonito, uma localidade aqui perto de Ituporanga, só para dar uma volta, e me assustei. Sério! Fiquei menos de 20 minutos lá, e ouvi o silêncio. Que estranho essa expressão, né? A única coisa que eu ouvia era o vento balançando o campo de milho. E mais nada. Nadica de nada. Nada. Aquilo foi demais. Foi bom. Exuberante. Apaixonante. Maravilhoso. Eu conseguia ouvir meus pensamentos!
                E foi aí que eu realmente percebi como a vida é barulhenta: os carros passando a toda hora, ainda mais aqueles com som alto, os gritos, a TV, o rádio, a música do vizinho, a barulheira do campo de futebol... Cadê meus pensamentos? Cadê o barulho do vento? Cadê a paz? Cadê a calmaria? Foi-se. Não tem um lugar aqui perto de casa que se compare ao silêncio do Rio Bonito.
                E aí eu penso lá na minha casa em Itajaí, o meu apartamento que fica lá no alto, e como é o silêncio lá? Com certeza é maior que aqui em Ituporanga, já que lá não tem campo de futebol do lado, mas tem as construções, os prédios, o barulho insuportável do elevador, outro barulho insuportável da chuva caindo nas antenas das televisões à cabo, e olha que adoro barulho de chuva, mas essas antenas tiram toda a magia do negócio. E agora? Onde terei silêncio?
                Então me transporto lá pra casa da minha avó, em Navegantes, uma praia relativamente calma. Digo relativamente porque ela mora ao lado de uma colônia de pescadores, e digo uma coisa, nunca vi gente pra fazer tanto barulho, principalmente no domingo às 6 horas da manhã. Paz? Não. E também tem os carros de som, que lá bate o recorde.
                E agora? Quem poderá me salvar dessa barulheira toda? Não sei. Acho que preciso passar o fim de semana reclusa em algum lugar longe da civilização e tecnologia, algum lugar que não pegue celular, não tenha rádio ou televisões por perto. E de preferência, não tenha muitas pessoas. Difícil? Praticamente impossível! Existe um lugar assim hoje em dia aqui por perto? Não sei! Se você souber, por favor, avise-me, que eu estou precisando de um retiro de silêncio na minha vida.

"O silêncio está ligado à questão da solidão." 
Lucas Lenci


         Sugiro ler a matéria Silêncio, por favor da edição de janeiro da revista  Vida Simples. Não é publicidade, apenas a matéria ficou muito boa e as fotos do projeto Desáudio estão demais! 

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